sexta-feira, 27 de abril de 2007

NY lá vou eu!

Quem foi que me chamou pra vir aqui mesmo??? Sei lá, mas quem teve essa idéia cometeu talvez o maior erro na vida! eu não quero mais ir embora! Tenho que confessar, sou uma viciada do estilo de vida a mil por hora, pessoas indo e vindo nas ruas, luzes piscando 24 horas por dia! Sem falar num bom hotel, bem localizado e pouca coisa pra se preocupar...ahaha! acho que nesse aspecto a viagem pra Espanha me fez muito mal, afinal de contas, tive pela primeira vez a oportunidade de conhecer esse outro lado da vida, o lado obscuro e boêmio, onde a hora de acordar e trabalhar simplesmente não existem! e o relógio se transforma em somente mais um dos acessórios que podem combinar ou não com a sua roupa.

Bem, independente de como quando e porque, só sei que estou aqui. E como não podia deixar de ser, lá vou eu com as minhas famosas obsessões! Cheguei no aeroporto, o oficial me entrevistou, perguntou porque eu tava vindo pra cá e essas coisas todas. Passado esse momento, sobre o qual não posso deixar de fazer uma referência ao Folhas ao Vento, nos sentimos acuados novamente, como se colocássemos o nosso destino nas mãos de alguém, que a gente nem sabe se tá de bom humorou não....mas voltando...cheguei e eis o que vejo! caféééé! to go! todos os dias eu digo isso: " meu sonho era ter uma loja de "café pra levar" entre a minha casa e o meu trabalho".

Parei, pedi meu café, tamanho pequeno. Mas o "pequeno" aqui é igual à bacia que o meu sogro usa pra tomar o seu desjejum - enorme! Eu devo ter colocado uns 7 saquinhos de açúcar naquele treco. Mas ficou ótimo! E melhor ainda, ía demorar um tempão pra acabar, o que significava mais tempo com o copinho que eu ador na mão! e lá fui eu toda animadinha. Fui então procurar o taxi, e como uma boa brasileira mal saí do aeroporto e já tava conversando com gente que nunca tinha visto na minha frente. E devo dizer que a conversa foi produtiva! o senhor lá me disse como eu deveria discar para o Brasil usando o celular! e a criatura era do Egito! fala sério...essa cidade é mesmo muito louca!

O mesmo senhor me ofereceu taxi, mas brasileiro que se preza já fica esperto, nem em Guarulhos a gente toma taxi "de estranhos", que dirá em "Noba". Então, gentilmente declinei da oferta. Entrei novamente no aeroporto e fui ver quanto que tava o busu. A mulher falou tão rápido e com tão boa vontade que achei mais seguro optar pelo taxi, mesmo sendo mais caro. E saí de novo do aeroporto, dessa vez pensando com meus botões, "putz, a mulher falou que vai dar uns 70 dolares!, tô ferrada!". Me encaminhei para a "típica afro-americana novaiorquina", muito muito simpática por sinal, que gerenciava os taxis do aeroporto, e esperei ela terminar de atender as pessoas que lá estavam. Aí, chega uma mulher com sua filha, e eu me lembrava de tê-las visto no aeroporto de Sampa. E como filha de Nil que sou...arrisquei:"desculpa, você é brasileira?" e veio a resposta que eu queria "sou"! Pois eu não tive dúvida, perguntei pra onde ela tava indo e se não queria dividir um taxi. Claro que antes eu olhei pra ela por uns 10 segundos pra ver se eu identificava algum traço psicótico aparente que pudesse me fazer recuar...mas não. Tudo certo! Viemos conversando por todo o caminho, ela e a filha muito simpáticas e me dando várias dicas sobre a cidade, enquanto o motorista passava quase 100% do tempo falando uma lingua totalmente incompreensível pelo celular.

A verdade é a seguinte: por trás da desculpa do taxi sair mais barato, está a realidade de que a gente acaba é ficando apavora por chegar nessa cidade pela primeira vez, sozinha, chovendo (como se isso fizesse realmente alguma diferença...ahaha), e dividir o taxi significava também dividir a apreensão que eu sentia por estar ali "só". E aí, enquanto vínhamos no taxi, eu pude me dar conta mais uma vez de que eu não estava e nunca estive só, e que uma força maior sempre nos mostrará uma mão pronta para nos apoiar.
sub-Títulos

Você já parou pra prestar um pouco de atenção no comportamento das pessoas? Se não fez isso ainda, sugiro que faça. Assim verá o quão absurdo e ridículo se tornou o nosso pobre mundo, perdido entre nacionalidades que se pressupõem superiores e títulos distribuídos conforme o valor dos lances como se estivéssemos num leilão.

E lá estava eu, na sala de embarque. Aí a mocinha da Cia aérea decidiu que era hora de embarcarmos. Hum...eu disse embarcarmos? Muita calma...não é bem assim não que a coisa funciona. Todos vão viajar no mesmo avião mas...! a ordem de embarque faz toda a diferença! E então ela começou: "Please, I would like to invite passengers business first ONLY to come on board". Ops! esqueci de avisar uma coisa: nós estávamos no Brasil!!! E a mocinha deliberadamente concluiu que somente passageiros estrangeiros viajam de classe "business first"! Obviamente eu esperei que a coitada tivesse feito alguma confusão, sabe como são essas coisas, viajam tanto que às vezes nem se lembram onde estão...mas não, não se dando por satisfeita lá foi ela novamente "Now I would like to invite passengers elite ONLY to come on board". Eu pensei comigo: "que essa mocinha pensa que tá fazendo? onde ela pensa que está?".
Mas já era tarde demais, todos os passageiros já estavam embarcando, cada um devidamente trajado do orgulho de ser business first ou elite.

Depois de passada toda essa coisa dos (sub)títulos, quando todos já estavam a bordo, o avião decolou. E aí me dei conta que todos estão respirando o mesmo ar, sujeitos ao mesmo risco, ansiosos por chegar ao mesmo destino.

E essa é somente uma das muitas viagens que faremos na vida. Ah! e não esqueça, infelizmente, na última viagem não tem jeito, tem que ir sozinho mesmo e não dá pra pagar pelo melhor lugar, pela melhor comida, pra entrar primeiro ou por último, ou pra ser chamado de "business first"... I'm sorry to desappoint you...mas o destino é desconhecido e incerto. E boa viagem!
Folhas ao Vento

Tem horas que a gente percebe mais claramente o quanto somos frágeis. O quanto nos sentimos intimidados por outras pessoas ou circunstâncias...perdidos na burocracia que criamos ao nosso redor.

Se em um instante estamos em um lugar, no outro já não estamos mais, e com a velocidade das máquinas criadas pelo ser humano nos deslocamos para outro mundo. Se pararmos bem pra pensar, é uma loucura deixar o nosso mundo, no qual já nos sentimos confortáveis e ao qual estamos acostumados, pra nos aventurarmos ainda que temporariamente por outros céus, ruas e avenidas, pra nos expormos a outras cabeças e culturas.

E assim vamos como folhas ao vento, e que o vento que nos leva seja o mesmo que nos traz de volta, e olha por nós enquanto vamos por aí, a caminhar sem rumo.