domingo, 29 de abril de 2007

Partidas e chegadas
Encontros e + encontros

Me lembro exatamente como e quando tudo começou. Foi no dia 29 de dezembro de 1976, quando minha mãe me levou pra casa pela primeira vez. Meu irmão, com 3 anos nessa época, logo pensou: "eba! mamãe troxe pra casa um brinquedinho novo!". E esse brinquedinho era eu, recém nascida e indefesa.

Durante toda a infância, como crianças normais brincamos e brigamos juntos. Na adolescência, como já era de se esperar, nos "separamos" um pouco. Pelo que me lembro, até a época que ele foi passar um ano fora, evento esse sobre o qual confesso não ter muita memória, afinal de contas a adolescência é uma fase estranha e estamos quase todo tempo imerso em nossos próprios "problemas" e rebeldias.

Passado mais um tempo as mudanças foram acontecendo, e a vida nos uniu novamente. Passamos a ir a festas juntos, beber juntos (ahahah) e ter amigos em comum. Nessa época percebíamos cada vez mais coisas em comum e assim o tempo foi passando.

Um dia, quando já tínhamos lá pelos 2o e algo, papis e mamis se mudaram pra outra cidade, e permanecemos em Salvador. Eu já trabalhava feito uma louca neurótica e praticamente passava a maior parte do tempo fora de casa, trabalhando e viajando. Mas ele tava sempre lá, quando eu voltava nos fins de semana, me esperava, e novamente saíamos juntos pras farras.

Até que ele resolveu ir pra Califórnia. Quase fiquei sem chão, meu irmão, amigo e companheiro estava indo pra longe. Por mais que a gente não se visse todo dia saber que ele estava lá, perto, sempre representou muito pra mim, e agora tudo isso ia acabar. E eu sabia que não tinha data pra terminar. Explico porque: meu irmão é uma das pessoas mais livres que eu já conheci, não tem amarras, não tem "poréns", simplesmente vive o momento com toda sua intensidade. E por mais que eu soubesse que sentiria muitas saudades, eu sabia desde o princípio que não se deve e não se pode prender alguém assim, e que no final das contas isso sempre foi uma das coisas que eu mais admirei nele, sua capacidade de seguir em frente, sorrindo, sem olhar pra trás.

Foram 3 longos anos, e no principio não foi nada fácil, muito choro, muitas lembranças, muita saudade. Mas feliz por saber que quem a gente ama está feliz também. E um belo dia ele estava de volta, e tudo entrava nos eixos outra vez. Diferente de antes, claro, mas sempre olhando pra frente, pro futuro.

Um dia (eu estava fora da cidade pra variar) eu tive um sonho, dos mais estranhos. Sonhei que ele tinha morrido. Acordei no mais absoluto desespero, tinha sido muito muito real. Era um domingo, liguei pra casa, ninguém atendeu. Isso nunca acontece na minha casa aos domingos...então já comecei a entrar em pânico. Aí liguei pro celular do meu pai, e minha mãe atendeu. Na mesma hora pensei:"pronto, é tudo verdade!"- minha mãe é uma pessoa avessa a tecnologia e nessa época não fazia nem idéia direito do que era um celular. Antes que eu falasse qualquer coisa ela começou a me fazer um zilhão de perguntas, e eu só dizia "mãe, diz que Rafa tá vivo, mãe, por favor!...". E por fim ela disse que estavam no hospital e que ele estava bem (quer dizer, bem mal né?) tinha tido um acidente mas estava bem...eu pedi pra falar com ele, só assim ía sossegar e ter certeza que ninguém estava mentindo pra mim.

Passado mais algum tempo, me mudei pra São Paulo. Nessa época já tínhamos vidas um pouco mais "distantes", o que é absolutamente normal, os interesses mudam, as afinidades e o foco de cada um seguem por rumos às vezes distintos. Mas na hora da partida é sempre muito difícil. Nessa hora, e depois que parti, começei a sentir falta do que mais me era precioso. Não passou muito tempo e lá estava ele, a caminho de Sampa. Minha felicidade era imensa! É aquela velha história. Mesmo que você não conviva 24 horas com algumas pessoas você gostaria sempre de tê-las perto, pra cuidar, pra dar e receber atenção e carinho, pra falar e ouvir palavras amigas ou até mesmo somente para compartilhar de sua presença.

E novamente uma reviravolta. Temporada na Espanha. Me lembro bem quando ele me disse: "Vá e não se preocupe, se precisar de qualquer coisa é só me avisar e eu estarei lá". E pouco tempo depois lá estava eu numa lan house agoniada pra saber a que horas meu irmão desembarcaria em Salamanca. Eu não me aguentava de ansiedade, e ver ele sentadinho no banco da estação de onibus esperando nossa chegada foi emocionante, mais uma vez.

E agora estamos aqui e ali, cada um em uma cidade diferente, de volta ao Brasil. Nos vendo de vez em quando. E esperando pelo momento que a vida vai nos surpreender com novos encontros e + mais encontros. Mas tem algo que, apesar da distância, está sempre lá, no peito de cada um de nós, que é o amor, o carinho e a saudade que nos une. E não importa quanto tempo passe, quantas pessoas cruzem os nossos caminhos, quantos eventos aconteçam, quantas vidas tenhamos que viver...nossas almas e corações estarão sempre unidos.